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Murumuru chega à construção civil

Escrito por Rosyane Rodrigues | Publicado: Quarta, 14 de Maio de 2025, 19h41 | Última atualização em Sexta, 16 de Maio de 2025, 15h25 | Acessos: 21

Amêndoa é capaz de deixar concreto mais leve e resistente

imagem sem descrição.

Por André Furtado | Ilustração: Gabriela Cardoso

Amplamente encontrado em terrenos alagados na região amazônica, o murumuruzeiro tem ganhado importante destaque, principalmente por seu potencial econômico. O óleo extraído das amêndoas de seu fruto transforma-se em uma gordura semissólida, denominada manteiga de murumuru, e muito utilizada na indústria de cosméticos para fabricação de sabonetes, cremes e xampus, por exemplo. Engana-se, entretanto, quem imagina que suas aplicações restringem-se a formulações ligadas ao mundo da beleza. É o que aponta uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Pará que testou as cinzas da casca do murumuru como componente de concreto estrutural.

Graduado em Engenharia Civil, Milleno Ramos de Souza foi quem conduziu o estudo que contou com orientação do professor Marcelo Rassy Teixeira e coorientação da professora Luciana de Nazaré Pinheiro Cordeiro. A pesquisa buscava uma solução voltada a minimizar o impacto ambiental decorrente da grande utilização do cimento no setor construtivo civil.

“O cimento hoje é o segundo elemento mais utilizado no mundo, fica atrás apenas da água. Popular na construção civil, é utilizado em larga escala, no entanto sua produção acarreta uma grande poluição ambiental, em virtude de a queima para sua fabricação lançar muito CO2 na atmosfera”, destaca o autor da dissertação Estudo da potencialidade da cinza da casca do murumuru, um resíduo agroindustrial amazônico como filler ao concreto estrutural.

Apresentada no Programa de Pós-Graduação em Infraestrutura e Desenvolvimento Energético da UFPA (PPGINDE), vinculado ao Núcleo de Desenvolvimento Amazônico em Engenharia (NDAE), a pesquisa teve como objetivo analisar as características e o comportamento que o resíduo do fruto teria quando misturado ao concreto estrutural. A escolha do murumuru como base para o estudo levou em consideração o fato de o processo de extração da polpa nas cooperativas deixar uma quantidade considerável de resíduos advindos da casca do fruto.

Produto tem melhor elasticidade e pouca penetração de água

Para o estudo, inicialmente foi feita uma coleta dos resíduos pré-triturados em uma cooperativa. O material foi queimado a 200ºC, moído e peneirado até passar por uma malha de 75 µm, atingindo, assim, o tamanho filler – um pó bastante fino, comumente utilizado como material de enchimento em concretos e argamassas.

 Após a obtenção das cinzas, seguiram-se os experimentos físicos e químicos para obtenção do concreto, o que incluiu um processo de substituição do cimento em diferentes percentuais. Nesta etapa, foram feitas análises de resistência à compressão; resistência à tração; módulo de elasticidade; absorção de água; entre outros experimentos.

Os resultados foram satisfatórios. O uso do murumuru foi capaz de deixar o concreto mais leve e resistente. A percentagem melhor avaliada foi a de 6% do resíduo do murumuru em relação ao cimento. “Obtiveram-se resultados com ganho em incremento, resistência à compressão e à tração no concreto, além de um melhor módulo de elasticidade e pouca penetração de água, graças ao efeito filler gerado pelo resíduo no concreto estrutural”, ressalta Milleno de Souza.

Além disso, a pesquisa apresentou uma solução para duas problemáticas ambientais, a primeira, em relação à produção de cimento, que lança para a atmosfera uma quantidade considerável de CO2; e a segunda, ligada à destinação final, no setor agrícola, dos resíduos do murumuru, os quais, em sua maioria, são queimados a céu aberto ou depositados em aterros sanitários.

“Com este trabalho, mostramos que diversos resíduos podem ser estudados no setor da construção civil, como incremento ao concreto, por exemplo. Pesquisas, nesse sentido, podem apontar inúmeros benefícios para a indústria da construção civil, como aumento da resistência e melhora na durabilidade do concreto, quanto contribuir com soluções ambientais, já que você vai retirar parte desse cimento e substituí-lo por uma cinza de resíduo vegetal. Este é um estudo bastante valoroso para o melhoramento da ciência, afinal a incentiva em estudos que mostram um resíduo regional da Amazônia sendo utilizado”, defende o pesquisador.

Sobre a pesquisa: A dissertação Estudo da potencialidade da cinza da casca do murumuru, um resíduo agroindustrial amazônico como filler ao concreto estrutural foi defendida por Milleno Ramos de Souza, em 2022, no Programa de Pós-Graduação em Infraestrutura e Desenvolvimento Energético (PPGINDE/NDAE/Campus Tucuruí), da Universidade Federal do Pará, com orientação do professor Marcelo Rassy Teixeira e coorientação da professora Luciana de Nazaré Pinheiro Cordeiro.

Beira do Rio edição 174 - Março, Abril e Maio

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