Especial de verão
Falta de saneamento e ausência de informações comprometem lazer seguro

Por Evelyn Ludovina | Ilustração: Freepik
Apesar de o Brasil ser conhecido mundialmente por suas belezas naturais e abundância de recursos hídricos, a balneabilidade ainda é um desafio a ser superado em muitas praias, pois é o que indica a condição de rios, lagos ou praias para o banho e atividades recreativas com segurança, sem risco à saúde. A legislação vigente (Resolução Conama 274, de 2000) está defasada e não acompanha os avanços científicos e ambientais dos últimos 20 anos. O país ainda enfrenta surtos de doenças de veiculação hídrica, como cólera, leptospirose, diarreias, gastroenterites, dengue e malária, agravados pela falta de tratamento de esgoto.
Em Belém, a situação é ainda mais crítica. Durante as férias de julho, por exemplo, quando aumenta a procura por balneários na região, muitos desses locais não oferecem condições adequadas para o banho, o que expõe a população a riscos sanitários. E para discutir balneabilidade, é fundamental entender que ela está diretamente ligada ao saneamento básico da região.
A ausência de coleta e tratamento adequados de esgoto impacta diretamente a qualidade da água para banho e lazer. Mesmo quando classificadas como próprias, essas águas ainda podem representar riscos à saúde devido à contaminação invisível. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), a situação é crítica: apenas 12% do esgoto da capital paraense é tratado. Em junho de 2025, um levantamento sobre a qualidade das águas nas praias de Belém, conduzido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), apontou que duas praias foram consideradas impróprias para banho: a praia do Amor, em Outeiro; e a praia do Farol, em Cotijuba.
“As praias deveriam conter placas informativas ao longo de todo o ano indicando a balneabilidade (própria ou imprópria) e a data da análise. Entretanto esta não é uma realidade para as praias paraenses, que não apresentam nenhum tipo de informação”, explica o professor de Oceanografia da UFPA Vinicius Tavares Kütter, especialista em Contaminação e Poluição Ambiental.
Falar sobre lazer e turismo nas praias vai muito além de discutir se a água é própria ou imprópria para banho. Quando o período de férias escolares acaba, percebe-se que o problema é maior, pois afeta diretamente o meio ambiente e a saúde da população. Do ponto de vista ambiental e sanitário, os impactos são significativos.
“A presença de patógenos em praias tem sido detectada com maior frequência em áreas com deficiência em saneamento. A presença de substâncias químicas e patógenos advindos do esgoto coloca também em risco a fauna aquática. Somado a isso, o lixo na forma de microplástico também é um indutor de proliferação de organismos patogênicos resistentes, conforme apontado em estudos realizados na China”, afirma Kütter.
De acordo com o pesquisador, é possível pensar em soluções para a problemática da balneabilidade, como o uso de aplicativos ou plataformas digitais que disponibilizem informações sobre a qualidade da água, medida já adotada em estados como Santa Catarina, Bahia e Paraná. Nesse sentido, está em desenvolvimento um projeto da UFPA, em parceria com a City University of Hong Kong, para monitorar a presença de resíduos farmacêuticos em rios da Região Metropolitana de Belém, que inclui áreas como a ilha de Mosqueiro, a praia do Cruzeiro e o rio Tucunduba. Os primeiros resultados devem ser divulgados em novembro de 2025, no site globalestuaries.org
“Espera-se que os resultados deste estudo pioneiro auxiliem no entendimento das condições ambientais dos rios da metrópole e sirvam de subsídio para que a população pressione os gestores públicos a tomarem decisões que assegurem um ambiente sustentável”, conclui o professor
Edição Rosyane Rodrigues - Beira do Rio edição 175 - Junho, Julho e Agosto
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