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Migrações, informação e produção de diferença

Publicado: Sexta, 17 de Agosto de 2018, 13h21 | Última atualização em Sexta, 17 de Agosto de 2018, 13h22 | Acessos: 2368

A circulação de informação e conhecimento entre estudantes estrangeiros no Brasil

Por Gabriela Bastos

Com o objetivo de conhecer as dinâmicas de produção e circulação de conhecimento resultante da experiência de estudar e de viver em outro país, o professor Rubens da Silva Ferreira apresentou a tese Estudantes estrangeiros no Brasil: Migrações, informação e produção de diferença ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob orientação das professoras Sarita Albagli e Leonora Corsini.

A tese foi um exercício etnográfico que envolveu a coleta de dados por meio de questionário on-line, entrevistas e observação. Além disso, o pesquisador trabalhou com a hipótese de que migrar corresponde a um processo de produção e circulação de informação e conhecimento.

“De modo geral, os migrantes são vistos como pessoas que transferem miséria e problemas sociais para outras fronteiras nacionais. Visões desse tipo têm negligenciado toda a bagagem infocognitiva dos migrantes e seu potencial para a inovação no país de recepção, esvaziando o protagonismo daqueles que fazem da ‘fuga’ um ato político, um direito, tal como expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos”, esclarece o professor.

O professor utiliza o termo migrante como proposto por Abdelmalek Sayad, empregado para referir-se, ao mesmo tempo, às pessoas que entram e saem de um lugar, país ou região. Em razão disso, a pesquisa contemplou os estudantes estrangeiros como migrantes, pessoas que trazem para o Brasil uma bagagem infocognitiva que é ampliada no contato com brasileiros e com outros migrantes que aqui vivem, situando-os em um processo de avaliação e reavaliação constante que afeta suas decisões e projetos futuros.

Sobre as motivações que sustentaram a decisão de estudar no Brasil, aparecem “a busca por cursos de graduação ou de pós-graduação que não existem no país de origem, a possibilidade de viver uma experiência internacional, a boa reputação das universidades brasileiras, o interesse pela língua portuguesa, a imagem do Brasil como país acolhedor e plural e o desejo de viver longe do controle familiar”, explica Rubens Ferreira.

De acordo com o pesquisador, o seu interesse de investigação surgiu de uma autorreflexão sobre a experiência de estudante de arquivo em Madri e da condição de migrante interno na cidade do Rio de Janeiro. Por isso ele se voltou para os estudantes estrangeiros no Brasil, pessoas que frequentam ou frequentavam cursos universitários entre 2010-2016, experimentando a condição de migrantes temporários.

Ao analisar, também, a mobilidade informacional e cognitiva produzida pelos estudantes estrangeiros, o professor observou nove comunidades virtuais de estudantes e migrantes no Facebook. O grupo que participou da pesquisa era formado por trinta e cinco jovens adultos que vieram de países sul-americanos (Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela), africanos (Angola, Benin, Cabo Verde, Gana, Guiné-Bissau, Moçambique, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe e Togo), caribenho (Haiti), centro-americano (Costa Rica) e europeus (França e Itália).

Os participantes da pesquisa estudaram em instituições de ensino superior (públicas e privadas), frequentaram cursos de graduação ou de pós-graduação nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. De acordo com o pesquisador, a rotina dos estudantes estrangeiros se confunde com a dos demais migrantes, alternando momentos de estranhamento, encantamento e adaptação. As interações sociais provocam trocas comunicativas, cognitivas, informacionais e afetivas que a experiência de viver no exterior propicia.

Ferramentas da Tecnologia da Informação atenuam ausência

Conforme o pesquisador, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) são essenciais para os estudantes durante a condição de “ausência”, uma vez que elas são o meio para se fazerem presentes no país de origem. “É uma presença transubstanciada em linguagens, signos, afetos, informações e conhecimentos. Na experiência do deslocamento, as questões emocionais e afetivas são amenizadas por meio de textos escritos, mensagens de voz e de fotografias ‘bitficadas’. Os estudantes estrangeiros colocaram em evidência que a informação constrói pontes para o país de origem, interconectando pessoas em um espaço de breves encontros, mas suficientes para lidarem com as dificuldades impostas pela distância”, afirma.

Os estudantes fazem uso frequente do Facebook, para compartilhar informações e conhecimentos a partir de seus perfis e das comunidades virtuais existentes na rede social. Do grupo de colaboradores, 27 participam de algum grupo interessado em informações sobre o país de origem. “Essas necessidades informacionais emergem quando os migrantes percebem que precisam negociar com a nova realidade vivida no país de recepção e, ao mesmo tempo, lidar com a distância física do país de origem e com as consequências que resultam dessa ausência. Uma dessas consequências é a necessidade de construir uma nova rede de apoio para enfrentar as dificuldades, exigindo investimento de tempo para a ampliação do capital social nas cidades brasileiras em que estudam”, explica Rubens Ferreira.

Ao etnografar as comunidades virtuais de migrantes no Facebook, o professor percebeu que elas são espaços de fluxos informacionais e cognitivos que correspondem a propósitos, interesses e necessidades específicas. Além disso, as comunidades em questão podem ser classificadas de diferentes tipos (mistas ou transnacionais, nacionais, de estudantes e institucionais), de acordo com a sua composição étnica e com os usos levantados pelo pesquisador.

Pesquisa continua na Faculdade de Biblioteconomia

O professor Rubens Ferreira prossegue com seus estudos na UFPA, coordenando o Grupo de Estudos da Informação em Contextos Intra e Extrabiblioteca, no âmbito da Faculdade de Biblioteconomia (ICSA/UFPA). Os trabalhos em andamento articulam os fenômenos informacionais e migratórios.

Beny Kadima (congolês) e Meverick Nolasco (peruano) são estudantes estrangeiros que escolheram Belém como destino e a UFPA como instituição para a diplomação universitária. Meverick é estudante de Engenharia Biomédica. Segundo ele, a língua portuguesa foi aprendida em quatro meses para tentar a bolsa de intercâmbio, porém só conseguiu a vaga um ano depois.

Já Beny Kadima, estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo, disse que enfrentou dificuldades para acessar informações sobre as universidades brasileiras, já que, apesar da aprovação, os cursos do interesse dele não possuíam vagas. Essa dificuldade fez com que Beny também esperasse um ano para vir estudar no Brasil.

Ed.144 - Agosto e Setembro de 2018

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