Conheça o Mosaico

No conjunto de imagens (estímulos de mosaico variegado) podemos observar os estímulos visuais no centro que se diferenciam do fundo, seja pela cor ou intensidade luminosa. As pessoas que não conseguem fazer essa diferenciação apresentam problemas no sistema visual. Há possibilidade da utilização das imagens por profissionais, como oftalmologistas, para diagnóstico desses problemas.

 Por Renan Monteiro Foto Acervo do Projeto

No nosso complexo sistema de visão, uma característica fundamental para visualizarmos os elementos do exterior é o contraste necessário entre o objeto e o fundo ao seu redor. Os cientistas visuais afirmam que esse contraste deve ocorrer com no mínimo um dos cinco atributos do cenário visual: intensidade luminosa, textura, movimento, cor e diferença de posicionamento da imagem em cada olho (disparidade binocular).  Quando esses atributos entre o objeto e o ambiente são semelhantes, ocorre a camuflagem e não conseguimos visualizar o objeto. Um exemplo é o réptil camaleão, que possui a capacidade de imitar a cor do ambiente para se confundir com ele, não havendo, assim, o contraste necessário na cor.

Para a pessoa que não tem a capacidade de diferenciar esses atributos - mesmo havendo o contraste entre objeto e ambiente - há bastante dificuldade na realização de tarefas que exigem essa diferenciação, comprometendo sua qualidade de vida. Considerando esse contexto, o pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular (PPGNBC/ICB) Felipe André da Costa Brito desenvolveu, em sua dissertação, um programa no qual há possibilidade de diagnosticar pessoas que não conseguem ou estão em vias de não conseguir fazer a discriminação de cor ou luminância. Com o título Desenvolvimento de um programa gerador de estímulos visuais de mosaico, a pesquisa foi orientada pelo professor Givago da Silva Souza.

Os testes de estímulo mosaico variegado ou pseudoisocromático são basicamente imagens formadas por elementos de diferentes tamanhos, formatos e cores, e destinadas ao exame na discriminação de cor. “Um aspecto importante do estímulo pseudoisocromático é que a presença de ruído espacial (manchas) e ruído de luminância (brilho) requer que o sujeito dependa fortemente de sinais cromáticos para diferenciar o alvo do seu plano de fundo. Sendo assim, caso o indivíduo apresente problemas na visão de cor, não será capaz de perceber a presença de um alvo no estímulo”, afirma o autor Felipe André da Costa Brito.

A expertise do programa, nomeado como Mosaico, é gerar esses estímulos, para serem utilizados tanto em pesquisas, quanto em diagnósticos. O autor explica que, pela dificuldade na realização de estudos na visão de cores utilizando os estímulos de mosaico variegado - dada a criação e a personalização desses estímulos serem limitadas ou não possíveis nos testes disponíveis no mercado - o projeto foi voltado principalmente para os pesquisadores, mas abre portas para diversas áreas além da pesquisa, como a de diagnóstico. “A partir do programa, será possível o desenvolvimento de novos testes para avaliação da visão de cor em clínicas de oftalmologia, em exames para obter carteira de motorista, até em uma seleção para uma vaga de bombeiro, entre outros”, afirma Felipe.

Testes mostram satisfatória a funcionalidade do programa

A principal diferença entre o Mosaico e outros programas presentes no mercado é permitir que o usuário configure todos os aspectos de um estímulo de mosaico variegado: o formato, o tamanho dos elementos presentes ou o alvo no mosaico, este podendo ser inserido tanto por meio de sugestões do programa como também por criação do usuário.

“O programa possui três módulos, um de configuração, um de carregamento e outro de edição. A partir do módulo de configuração (como já foi dito), o usuário pode configurar todos os aspectos que um mosaico possui. Com o módulo de carregamento, o usuário pode carregar o mosaico gerado pelo módulo de configuração e então configurar os parâmetros do estímulo variegado, como as cores do alvo e do fundo, o ruído de luminância etc. O módulo de edição permite ao usuário editar o alvo de um mosaico criado a partir do módulo de configuração’’, resume Felipe da Costa Brito.

Sobre o funcionamento do programa, foram feitos diversos testes quanto à funcionalidade e à facilidade de uso. No Laboratório de Neurologia Tropical da UFPA, foi desenvolvido um teste de avaliação da visão de cores, o qual consiste na identificação da orientação de uma letra C mostrada dentro de um arranjo pseudoisocromático: “Este teste utilizou mosaicos variegados, que foram gerados por meio do programa. O teste apresentou resultados equivalentes aos vistos em outros testes presentes no mercado, sendo eficiente e eficaz na detecção de perdas da visão de cor”, relata.

Pretende-se aprimorar o Mosaico com novas configurações, como implementar um módulo para realização de testes psicofísicos, seguindo o exemplo do semelhante Programa Psykinematix. Os testes psicofísicos são o estudo científico da relação entre estímulo e sensação. “É o que permite aos cientistas realizarem uma análise dos processos perceptivos, estudando o efeito na experiência ou no comportamento de uma variação sistemática das propriedades de um estímulo ao longo de uma ou mais dimensões físicas’’, explica o pesquisador.

Ed.145 - Outubro e Novembro de 2018