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Ciência

Publicado: Quinta, 12 de Maio de 2022, 19h44 | Última atualização em Quinta, 12 de Maio de 2022, 19h44 | Acessos: 764

Doses duplicadas de medicação evitam recaídas por malária

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Por Edmê Gomes Ilustração CMP

Um estudo recente indica que doses mais altas do medicamento primaquina podem ser mais eficazes contra recaídas da malária. Os resultados foram publicados no The New England Journal of Medicine, periódico médico geral mais lido, citado e influente no mundo.

Atualmente, na maioria dos países localizados nas Américas, o tratamento utilizado na prevenção da recaída da malária causada pelo Plasmodium vivax, uma das três espécies de parasito causador da doença, consiste na administração da primaquina na dose total de 3,5mg/kg. Os pesquisadores duplicaram as doses em testes e observaram que a elevação se mostrou mais eficaz na prevenção da recaída, se comparada à dose usual.

“Nossa pesquisa analisou se o aumento da dose de primaquina poderia prevenir recaídas da doença de forma mais eficaz. Essa ideia surgiu com a observação de estudos que mostraram que cerca de 30% a 40% das pessoas tratadas com a dose usual de primaquina (dose utilizada atualmente nas Américas – incluindo o Brasil- e recomendada pela Organização Pan-Americana de Saúde) apresentavam recorrência de malária nos primeiros 6 meses, após o tratamento, e de experiências em países da Oceania e da Ásia, onde também há transmissão da malária por P. vivax”, explica uma das autoras do estudo, a pesquisadora Nathália Nogueira Chamma Siqueira.

O estudo foi um ensaio clínico randomizado que acompanhou, durante seis meses, 254 pacientes, entre crianças com mais de cinco anos e adultos infectados pela primeira vez. Os indivíduos foram divididos em grupos que receberam uma dose total de 3,5 mg/kg durante 7 dias, sem observação direta da tomada do medicamento; os que receberam o mesmo esquema de medicação, porém com acompanhamento direto da tomada do medicamento; e, por fim, o grupo que teve administrada a dose total de 7 mg/kg de primaquina por 14 dias, com observação direta.

Resultados devem contribuir com tratamento no Brasil e em outros países

A área pesquisada foi Cruzeiro do Sul, município amazônico que registra uma incidência anual de 147,5 casos de malária por mil habitantes e onde mora Maria Leão Guanabara de Queiroz, dona de casa, 74 anos. “Eu tive malária cinco vezes. É uma doença que eu não gosto nem de lembrar. Dá uma falta de coragem tão grande que a sensação é que a gente não vai voltar mesmo, e o pior é que fui pegando uma vez muito perto da outra. Já aconteceu de, um mês depois dos remédios, eu pegar malária de novo e pensar ‘Meu Deus, quantas vezes eu vou pegar?’”, relembra a acreana que sempre buscou tratamento adequado e há dois anos não é infectada.

A doença, transmitida aos seres humanos pela picada da fêmea infectada do mosquito Anopheles, causa febre, calafrios e, em casos graves, pode matar. O estudo apresentado mostrou que a dose total dobrada de primaquina foi quase 30% mais eficaz na prevenção de recaídas da malária por P. vivax do que a dose total usual. “Essa é uma conclusão importante que pode ajudar, em muito, o tratamento da malária não só no Brasil, mas também nos outros países. Portanto essa pesquisa traz um ganho para a sociedade brasileira, já que fomenta a discussão sobre a possível revisão da política de tratamento da malária por P. vivax no Brasil e nas Américas”, aponta Nathália Chamma.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo, 229 milhões de novos casos da doença foram notificados em 2019, com registro de mais de 409 mil mortes. No Brasil, segundo o último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, foram notificados 145.188 casos de malária em 2020 e 57.374 casos entre janeiro e junho do ano passado.

“Quanto às expectativas, a primeira é que este estudo seja replicado em outros países amazônicos, para verificar se esta eficácia da dose dobrada também se reflete em outras áreas de malária por P.vivax nas Américas. Depois, é necessário aperfeiçoar estratégias para assegurar a adesão dos pacientes aos 14 dias do tratamento necessário”, conclui Nathália. 

Sobre a pesquisa: Nathália Chamma é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários (PPGBAIP), do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), no qual desenvolve a pesquisa Avaliação da eficácia de três esquemas para o tratamento terminal com primaquina para Plasmodium vivax em Cruzeiro do Sul, Acre, região amazônica, com orientação da professora Giselle Rachid. O artigo publicado no The New England Journal of Medicine é um dos produtos da tese em andamento.

Participam do estudo o Instituto Evandro Chagas (IEC), a Secretaria Estadual de Saúde do Acre (Sesacre), no Brasil; as universidades Ricardo de Palma e Nacional Toribio Rodríguez de Mendoza de Amazonas, no Peru; e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos EUA, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e com o Ministério da Saúde do Brasil.

Beira do Rio edição 162

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