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Resenha

Publicado: Sexta, 08 de Abril de 2022, 17h16 | Última atualização em Sexta, 08 de Abril de 2022, 17h18 | Acessos: 1715

Amazônias desiguais: violências e resistências na longa duração

#ParaTodosVerem: Arte com a capa do livro "Violências versus Resistências: desigualdades de longa duração na Amazônia. O título do livro e o nome das organizadoras, Jane Felipe Beltrão e Paula Mendes Lacerda, estão centralizados, escritos na cor preta, com fundo na cor vermelha. Na parte inferior do livro, uma faixa na cor vermelha traz o logotipo da editora ABA Publicações. O fundo da capa é composto por uma arte gráfica abstrata, nas cores vermelha e branca.
#ParaTodosVerem: Arte com a capa do livro "Violências versus Resistências: desigualdades de longa duração na Amazônia. O título do livro e o nome das organizadoras, Jane Felipe Beltrão e Paula Mendes Lacerda, estão centralizados, escritos na cor preta, com fundo na cor vermelha. Na parte inferior do livro, uma faixa na cor vermelha traz o logotipo da editora ABA Publicações. O fundo da capa é composto por uma arte gráfica abstrata, nas cores vermelha e branca.

Por Daniel Souza Barroso Foto Reprodução

Publicado pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA) no final de 2021, o livro organizado por Jane Felipe Beltrão e Paula Mendes Lacerda, Violências versus Resistências: desigualdades de longa duração na Amazônia brasileira (1) amplia as leituras acerca dos processos que conformaram às Amazônias o signo das desigualdades históricas e estruturais. A coletânea, dividida em três eixos, é resultado de um projeto de pesquisa financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio de um edital voltado às memórias brasileiras de conflitos sociais (2).

O primeiro eixo do livro, Os fios do passado no presente, tem na História um lócus de observação privilegiado sobre a emersão das desigualdades nas Amazônias. Patrícia Alves Melo, no capítulo inicial da obra, analisa as hierarquias sociais de sujeitos com liberdade precária no século XIX. Ilegalmente escravizados ou sem acesso à já limitada cidadania oitocentista, os indígenas e os africanos livres examinados pela autora experimentaram um “não lugar”, efeito social da cidadania restrita que vivenciavam. Rhuan Lopes, em um recorte mais recente, demonstra como os estudos de viabilidade técnica da Usina Kararaô (Belo Monte) transformaram as percepções sobre o patrimônio cultural em Altamira.

O eixo seguinte, Entre a tradição e a mudança, lança luz aos conhecimentos, saberes e protagonismos indígenas e sua relação com as estruturas de pensamento, organização escolar e participação política “coloniais”. Camille Castelo Branco e Jane Beltrão evidenciam como os conhecimentos tradicionais dos povos da Amazônia são parte indispensável da sua dinâmica social. Rosani Fernandes, da etnia Kaingang, apresenta suas experiências como educadora indígena no sul e sudeste do Pará. Por fim, Assis Oliveira analisa as trajetórias, a formação e a participação política de jovens lideranças indígenas em contraponto ao adultocentrismo e às colonialidades que se tentam impor às Amazônias.

O último eixo, A dinâmica de conflitos e mobilizações sociais, é composto por seis artigos. Paula Lacerda discute frentes de mobilização social que se organizaram em resistência à construção de Belo Monte. Manuela Cordeiro, os conflitos relacionados à sobreposição da terra indígena de Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. Elieyd Menezes, os processos de violações de direitos trabalhistas, sociais e humanos com o trabalho análogo à escravidão no Rio Negro. Igor Rollemberg, as transformações nos modos de organização dos movimentos pelo acesso à terra no sul e sudeste do Pará. Katiane Silva, Luana Cardoso e José Silva, as resistências dos Munduruku, no Baixo Amazonas, diante da expansão de novas fronteiras econômicas. Vinícius Machado e Jane Beltrão, finalizando a coletânea, revisitam as memórias do Massacre de Eldorado dos Carajás.

Pelo exposto, é praticamente um lugar-comum concluir que a obra analisada eleva o patamar da compreensão sobre as violências e resistências nas Amazônias, na longa duração. Tendo no diálogo da Antropologia com outras disciplinas seu fio condutor, as desigualdades sob as quais a região foi formada são reinterpretadas por pesquisadores dos mais diferentes níveis de formação. Talvez resida, aqui, a maior contribuição da coletânea: garantir que novas gerações, dentro e fora da academia, possam seguir resistindo contra toda e qualquer forma de colonialismo nas Amazônias. Assim como o passado e o presente, o futuro será marcado por muitas lutas e resistências!

Daniel Souza Barroso – Professor da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFPA). Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP). E-maildsbarroso@ufpa.br

Notas do autor

(1) BELTRÃO, Jane Felipe; LACERDA, Paula Mendes (Orgs.). Violências versus Resistências: desigualdades de longa duração na Amazônia brasileira. Brasília: Associação Brasileira de Antropologia, 2021. 260p.

(2) Projeto de pesquisa Desigualdades, violências e violações de direito na Amazônia contemporânea, coordenado por Jane Felipe Beltrão (UFPA) e Paula Mendes Lacerda (UERJ). Aprovado no Edital N.º 12/2015 “Memórias Brasileiras/Conflitos Sociais” (CAPES).

Serviço: Violências versus Resistências: desigualdades de longa duração na Amazônia brasileira. Org. Jane Felipe Beltrão e Paula Mendes Lacerda. Edições ABA, 2021. 260 páginas. Formato e-book com acesso gratuito no site <http://www.portal.abant.org.br/>

Beira do Rio edição 162

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