Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Início do conteúdo da página

Livres para dançar (e calcular)

Publicado: Quinta, 15 de Maio de 2025, 18h57 | Última atualização em Quinta, 15 de Maio de 2025, 19h00 | Acessos: 14

Método de ensino alia dança urbana à Matemática

imagem sem descrição.

Por André Furtado |Foto: Alexandre de Moraes 

Estilo de dança urbana marcado por passos acrobáticos e movimentos rápidos, o Breaking nasceu nas ruas de Nova York, na década de 1970, e, ao longo dos anos, foi ganhando popularidade no mundo. Reconhecidamente um movimento da periferia, em 2024 chegou a Paris como modalidade olímpica e, apesar de ter perdido a vaga na próxima edição das olimpíadas, em Los Angeles 2028, segue em destaque no curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Pará, em que virou tema de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Breaking: um encontro interdisciplinar entre matemática e dança foi o título do trabalho de Jonata do Socorro dos Santos Neves, que buscou investigar as potencialidades do breaking como recurso pedagógico para o ensino de Matemática. Antes de entrar na graduação, Jonata Neves já praticava a dança por meio do Grupo Sheknah Crew, que conheceu ainda como estudante do ensino básico. Todavia, com as novas tarefas advindas da graduação, sua participação no grupo ficou em segundo plano, mas a paixão pela arte continuava a acompanhá-lo.

E foi percebendo a dificuldade que os estudantes tinham em compreender cálculos matemáticos que ele decidiu, com o auxílio da professora Cristina Lúcia Dias Vaz, resgatar essa relação com a dança e ensinar Matemática.

“Comecei a pesquisar sobre novos métodos de ensino, por conta das dificuldades que temos em aprender Matemática, desde o ensino básico. A metodologia mecânica, voltada somente para realização de provas, acaba fazendo com que muitos alunos criem aversão, principalmente quando se trata de assuntos mais abstratos, como Álgebra. Porém percebi, desde o meu ensino médio, que tudo que era contextualizado com o nosso dia a dia tinha uma aceitação melhor. Na graduação, busquei tornar concreto aquilo que, muitas vezes, é abstrato”, contextualiza Neves.

Cartografia, conceitos abstratos e movimentação

Utilizando o método de Cartografia e fazendo uso do conceito de dança criativa, que visa transmitir conhecimentos abstratos por meio da movimentação, Jonata colocou, lado a lado, Matemática e Arte, em uma oficina que introduziu conceitos de Análise Combinatória para seis praticantes do Grupo de breaking Sheknah Crew, chamados de b-boys. A atividade foi realizada no Instituto de Ciências Exatas e Naturais – Icen, da UFPA.

“O método de Cartografia permite ver o Fotos: Alexandre de Moraes que surge da intersecção de duas áreas diferentes, nesse caso, a Matemática e a Dança. E, além disso, a metodologia permite que o pesquisador não esteja de fora, somente olhando. Pelo contrário, ela quer que ele adentre o espaço da pesquisa em si. Como eu já participava dos dois ambientes de maneira ativa, consegui, com propriedade, registrar tanto as características da Dança quanto as da Matemática”, detalha o autor.

Os participantes da oficina não tinham proximidade com o ensino de Matemática. Por esse motivo, antes de abordar conceitos da área, Jonatas abordou o breaking. “Coloquei um contexto de breaking [para os participantes], que foi uma composição com uma sequência de movimentos diferentes. Em seguida, perguntei: ‘pessoal, como a gente pode compor uma sequência de movimentos a partir desses passos? Quero que vocês com binem da maneira que vocês preferirem’. E fui registrando cada combinação feita. Depois, perguntei de quantas formas diferentes podemos combinar esses passos, de tal maneira que sempre obtenhamos uma sequência diferente e cada passo seja utilizado somente uma vez. E aí, começaram as respostas”, relembra.

 Com essa atividade, Neves foi introduzindo conceitos da Análise Combinatória, utilizando o princípio multiplicativo para solucionar o problema junto aos b-boys. A atividade gerou um retorno positivo e fez com que os participantes entendessem conteúdos com os quais, antes, não tinham familiaridade. “Eu não sabia o que era Análise Combinatória, então, ele [Jonata] conseguiu trazer o tema de Matemática, que era muito distante de mim, para uma coisa que é muito próxima, que é a minha dança. Na oficina, a gente tava até para além do que ele já tava falando, fomos combinando várias coisas. Agora, basicamente, eu vejo o conteúdo de uma forma bem diferente de quando eu vi no ensino médio”, relata Gabriel Silva, um dos b-boys que participaram da oficina.

Como projeto futuro, Jonata Neves pretende levar a metodologia de ensino que pesquisou para dentro das escolas, visando apresentá-la a professores e alunos. “Pude constatar que, tendo a dança como primeira motivação, os participantes atenderam ao conteúdo e ficaram mais solícitos a se aprofundarem nele. Existem conteúdos matemáticos que dialogam com a dança e que podem ser ensinados por meio dela. Minha expectativa é que essas metodologias ganhem, cada vez mais, espaço na Academia”, finaliza.

Sobre a pesquisa: O TCC Breaking: um encontro interdisciplinar entre matemática e dança foi defendido por Jonata do Socorro dos Santos Neves, em 2024, no Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Pará, com orientação da professora Cristina Lúcia Dias Vaz

Fim do conteúdo da página