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Altamira entre rios e riscos

Publicado: Terça, 15 de Julho de 2025, 19h27 | Última atualização em Terça, 15 de Julho de 2025, 19h27 | Acessos: 21

Dissertação analisa relação entre qualidade da água e doença renal

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Por Elizabete de Jesus | Foto: Wesley Storch

A região de Altamira, localizada no sudoeste do estado do Pará, sofre com a atividade do garimpo, responsável por uma série de problemas, entre eles, a contaminação dos corpos hídricos por metais pesados como mercúrio, arsênio e chumbo. A presença desses elementos na água prejudica a qualidade de vida do ecossistema aquático e, principalmente, das pessoas que dependem do rio para sua alimentação e renda. Além disso, ao entrar em contato com o corpo humano, esses metais prejudicam a saúde afetando o sistema nervoso central, causando danos aos rins e aumentando os riscos de alguns tipos de câncer.

Diante dessa preocupação, Wesley Storch, biólogo com experiência em análises ambientais, buscou investigar a presença de metais pesados na água potável consumida pela população de Altamira e avaliar possíveis relações com a ocorrência de doenças renais crônicas (DRC) no município e na região do Xingu. Esse foi o objetivo principal da dissertação Avaliação da presença de metais pesados na água potável fornecida à população urbana de Altamira e o seu possível impacto epidemiológico sobre doenças crônicas renais.

Segundo o biólogo, foram analisadas 24 amostras de água de pontos estratégicos na zona urbana de Altamira, incluindo residências, áreas de captação do rio Xingu, estação de tratamento e reservatórios. A análise dos metais foi desenvolvida por Espectrometria de Massa com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-MS), realizada pelo Instituto Evandro Chagas (IEV).

“Já o levantamento epidemiológico para os casos de DRC utilizou dados secundários do DataSUS, de 2000 até 2020, e, também, dados de prontuários médicos do Hospital Público Regional Transamazônica (HPRT), de 2007 - início dos tratamentos por meio de hemodiálise - até 2023”, detalha o pesquisador.

Durante a pesquisa, foram analisados dados epidemiológicos de 403 pacientes com DRC, atendidos pelo Hospital Público Regional Transamazônica (HPRT). A maioria dos casos registrados foi em homens com mais de 60 anos, diagnosticados com hipertensão arterial sistêmica (HAS), isoladamente ou associada ao diabetes mellitus (DM), mas nenhum paciente teve o diabetes mellitus como causa única da doença. Outro aspecto revelado pelo estudo é que mais da metade dos pacientes (54%) recebeu o diagnóstico de DRC um ou dois anos antes de iniciar o tratamento dialítico, evidenciando um cenário de diagnóstico tardio e a ausência de triagem precoce da função renal na população urbana.

“No que diz respeito à qualidade da água, as análises em pontos urbanos de Altamira indicaram que, de forma geral, os parâmetros estavam dentro dos limites estabelecidos pelas legislações vigentes no período das coletas. No entanto dois pontos apresentaram concentração de alumínio (Al) acima do valor máximo permitido ", revela Wesley Storch.

Contaminação pode ocorrer na rede de abastecimento

O pesquisador destaca que a amostra coletada diretamente do rio Xingu, no ponto de captação, apresentou valores normais para o alumínio. No entanto, ele alerta para a possibilidade de contaminação na rede de abastecimento e para a necessidade de uma nova coleta para confirmação dos dados.

Ainda segundo Wesley Storch, um dado curioso foi a sobreposição entre os bairros com maior número de casos de doenças renais e as áreas que recebem, de forma contínua, a água tratada do rio Xingu. “Embora essa correlação não seja suficientemente estabelecida como ‘causa e efeito’, ela levanta uma hipótese importante, a possível contribuição de fatores ambientais, especialmente contaminantes hidrossolúveis, como metais-traço, para o agravamento da DRC”, relata.   

O pesquisador aponta que a hipótese levantada se torna ainda mais pertinente diante de estudos prévios na região. “Estudos anteriores demonstram o aumento de metais pesados, como o mercúrio, durante o período de cheia, algo que não foi possível avaliar nesta pesquisa, pois as amostras foram coletadas apenas durante a estação seca”, explica Wesley Storch.

Com base nesses resultados, a pesquisa reforça a necessidade de monitoramento contínuo da qualidade da água e políticas públicas voltadas à detecção precoce da doença renal crônica. O autor reforça que é preciso abrir caminho para estudos que investiguem, com mais profundidade, a interface entre saúde pública, meio ambiente e exposição a contaminantes na região amazônica.

Sobre a pesquisa – A dissertação Avaliação da presença de metais pesados na água potável fornecida à população urbana de Altamira e o seu possível impacto epidemiológico sobre doenças crônicas renais foi defendida por Wesley Storch, em 2024, no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação, da Universidade Federal do Pará, Campus Altamira, sob orientação do professor Adenilson Leão Pereira e coorientação do professor Kleber Raimundo Freitas Faial. A pesquisa foi realizada com o apoio técnico do Instituto Evandro Chagas (IEC).

Beira do Rio edição 175 - Junho, Julho e Agosto 

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