Desafios da pesca industrial no Pará
Captura do camarão-rosa precisa unir tecnologia e sustentabilidade

Por Evelyn Ludovina | Foto: Acervo da pesquisa
Uma das espécies de crustáceos mais nobres encontradas na Bacia Amazônica, o camarão-rosa compõe também o grupo de maior importância para a pesca industrial da região. Mas você sabia que a captura dele é uma das mais caras dos sistemas de pesca amazônicos?
Essa foi a temática da pesquisa intitulada Economia e sustentabilidade da pesca industrial do camarão-rosa Penaeus subtilis na plataforma norte do Brasil, feita pela engenheira de pesca Janay na Galvão de Araújo, pelo Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia da Universidade Federal do Pará (NEAP). O trabalho contou com orientação da professora Victoria Judith Isaac (NEAP/ UFPA) e coorientação do professor Marcos Antônio Souza Santos (PGAGRO/UFRA).
O estudo foi separado em quatro capítulos, abordando aspectos desde a viabilidade econômica até o impacto ambiental da atividade. Os objetivos incluíram avaliar possíveis cenários produtivos da pescaria do camarão-rosa; discutir a necessidade da mudança tecnológica da pesca e a sustentabilidade do modelo usado atual mente e registrar quais agentes são impactados por essa prática. Os indicadores econômicos foram estimados, mas também foram investigados os efeitos dessas capturas sobre o meio ambiente marinho.
Para alcançar esses objetivos, foram realizadas análises nos âmbitos macro e microeconômicos, o que envolveu pesquisas em empresas, entrevistas com profissionais que prestam serviços para essas instituições e investigações na cadeia de comercialização do camarão-rosa. Foram coletados dados sobre a produção pesqueira, os custos envolvidos na atividade, os preços de mercado do camarão-rosa e o impacto ambiental da pesca industrial, para obter uma visão mais ampla da situação.
Janayna destaca que a análise econômica oferece uma com preensão mais abrangente da realidade da pesca, fornecendo dados e informações que, quando interpretados corretamente, podem esclarecer questões e contribuir para o aprimoramento da atividade. “Sempre tentei entender o porquê de a pesca não ser detentora de crédito, o porquê de ela não acessar esse crédito de forma mais vantajosa, como outras atividades produtivas. Ao adentrar no âmbito da atividade pesqueira, vemos que é uma atividade desenvolvida de modo rudimentar, mesmo sendo considerada parte da pesca industrial, que, frequentemente, é invisibilizada”, afirma a pesquisadora.
Políticas devem considerar preservação dos ecossistemas
Para Janayna Araújo, os resultados da pesquisa são importantes para várias partes interessadas, incluindo pescadores, empresários, governantes e ambientalistas. Compreender os efeitos da pesca industrial do camarão-rosa permite que políticas mais eficazes sejam desenvolvidas para garantir a sustentabilidade dos recursos pesqueiros e a preservação dos ecossistemas marinhos, ao mesmo tempo que promove o crescimento econômico da atividade.
Um dos aspectos destacados pela pesquisa foi a questão da pesca incidental de produtos sem valor de mercado, que ocorre quando outras espécies marinhas são capturadas acidentalmente durante a pesca do camarão--rosa. Esses peixes exigem tratamento adequado antes de serem refrigerados, no entanto, devido à limitada quantidade de pessoas na embarcação, ao espaço destinado exclusivamente para o congelamento do camarão-rosa e ao preço superior deste em comparação a outros tipos de animais capturados, muitas vezes é mais vantajoso, economicamente, descartá-los, mesmo que alguns sejam adequados para o consumo.
Contudo essa prática acarreta consequências negativas para a fauna marinha, pois há um alto índice de captura incidental, em razão da baixa seletividade da modalidade de arrasto. São descartados pequenos tubarões cartilaginosos, assim como outras espécies também ameaçadas de extinção, prejudicando significativamente a ecologia marinha. Este desequilíbrio ecológico é um dos principais desafios dessa atividade, pois, em sua forma atual, não é sustentável a longo prazo.
“A modalidade praticada para a captura do camarão possui ampla captura incidental, ou seja, os arrastos de camarão não capturam só o camarão. A cada 1 quilo de camarão-rosa, são pescados de 4 a 10 quilos de peixes diversos, que são descartados. Trata-se de uma pescaria muito degradante para o meio ambiente”, diz a especialista.
Atividade precisa garantir qualidade desde a captura
A captura do camarão em si não é um problema, uma vez que ele possui um ciclo de vida curto e, inevitavelmente, morreria mesmo que não fosse capturado, detalha a pesquisa. O principal ponto de preocupação é o método de captura. Para que haja o fornecimento de alimentos de qualidade para a população, deve-se considerar a origem e a qualidade dos alimentos desde o momento da captura até a chegada à mesa do consumidor.
Mas, então, qual seria a solução para esse problema? Segundo a pesquisa, uma alternativa viável seria a inovação da pesca e a renovação das frotas. Medidas como redução de capturas, certificações ecológicas, melhoramento das condições higiênico-sanitárias das embarcações e valorização dos atores sociais envolvidos são apontadas como boas opções.
“Se a atividade não se atualizar, não inovar e não renovar a sua frota, realmente vai perder, crescentemente, sua competitividade. O consumidor está cada vez mais consciente, dentro desse cenário mundial, e as nossas embarcações são de 1970. Se não houver adequação e entendimento dos mercados, a pesca do camarão-rosa pode vir a desaparecer”, alerta a pesquisadora.
Sobre a pesquisa: A tese Economia e sustentabilidade da pesca industrial do camarão-rosa Penaeus subtilis na plataforma norte do Brasil foi defendida por Janayna Galvão de Araújo, em 2021, no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca (PPGEAP/ NEAP), da Universidade Federal do Pará, com orientação da professora Victoria Judith Isaac e coorientação do professor Marcos Antônio Souza Santos (PGAGRO/UFRA).
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