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Entrevista: A hora e a vez das nanorredes

Escrito por Beira do Rio | Publicado: Terça, 15 de Outubro de 2019, 14h45 | Última atualização em Terça, 15 de Outubro de 2019, 16h43 | Acessos: 4263

Professor apresenta alternativa de geração de energia renovável

Luis Antonio Corrêa Lopes
imagem sem descrição.

Por Walter Pinto Foto Mayra Peniche

A trajetória acadêmica do engenheiro eletricista paraense Luiz Antônio Corrêa Lopes passa principalmente por quatro grandes instituições de ensino e pesquisa. A UFPA, onde estudou a graduação e trabalhou como professor; a Universidade Federal de Santa Catarina, local do seu mestrado; a McGill University, em Montreal, no Canadá, onde realizou o doutorado, e a Concordia University, também em Montreal, da qual é professor e pesquisador há 17 anos. Especializado em Engenharia Elétrica e da Computação, ele é considerado uma referência na área de nanorrede aplicada à energia elétrica. A convite do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia (Proderna) do Instituto de Tecnologia, o pesquisador esteve na UFPA participando de uma série de eventos científicos, com objetivo de estreitar a cooperação entre o Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas (GEDAE) e o Grupo de Pesquisa em Eletrônica de Potência e Energia da Concordia University. A visita de Luiz Lopes se insere na política de fomento à colaboração internacional do Programa de Apoio à Cooperação Interinstitucional, desenvolvido pelas Pró-Reitorias de Pesquisa e Relações Internacionais da UFPA. Nesta entrevista, o pesquisador conta um pouco da sua trajetória e do conceito de nanorrede aplicável à necessidade energética de comunidades isoladas da Amazônia.

Iniciação científica

Fiz vestibular aos 16 anos, tendo sido aprovado no curso de Engenharia Elétrica da UFPA, turma de 1982. Tive a felicidade de conhecer professores encorajadores, como Jurandir Garcez, que incentivou os alunos a fazerem iniciação científica. Foi quando descobri o prazer proporcionado pela pesquisa. Isso mudou minha perspectiva de carreira. Até então pensava trabalhar como engenheiro da Celpa ou da Eletronorte. Mas a experiência da iniciação científica mudou o meu caminho. Depois, tivemos a visita do professor Edson Watanabe, da COPPE-UFRJ, que realizou, na UFPA, um curso de Eletrônica e Potência. Foi outro momento de grande importância, porque despertei o interesse pela área. Em 1987, saí para o mestrado em Eletrônica de Potência na Universidade Federal de Santa Catarina. Ao regressar, fiz concurso para professor no Departamento de Engenharia Elétrica, dando início à área de Eletrônica e Potência, que não existia até aquele momento na UFPA.

Carreira no Canadá

No Departamento de Engenharia Elétrica, fui incentivado a realizar o doutorado, se possível, no exterior. Então, em 1992, saí para o doutorado na McGill University, com bolsa do CNPq e salário da Universidade. Concluí o doutorado em quatro anos e meio e voltei para a docência na UFPA. Cinco anos depois, um ex-coorientador canadense me incentivou a pleitear uma vaga de professor na Concordia University, escolhida recentemente a melhor universidade com menos de 50 anos do Canadá. Minha contratação foi aprovada e há 17 anos sou professor dessa universidade.

Cooperação com o GEDAE

Meu interesse em estreitar a cooperação com o GEDAE vem desde meu ingresso na Concordia. Recentemente, pleiteei uma bolsa canadense de colaboração com a América Latina. Mas, veja só que curioso, o Brasil vem despertando tanto interesse dos professores canadenses que, segundo fui informado “extraoficialmente”, o governo achou por bem limitar o número de bolsas para o Brasil como estratégia de incentivo à cooperação com outros países. Não obtive a bolsa, mas, convidado pelo professor Wilson Negrão, do Proderna, pude interagir com alunos e pesquisadores, trocar experiências e ampliar a cooperação científica e tecnológica entre GEDAE/UFPA e Concordia University.

Energia e sistemas convencionais

Atuo na área de nanorredes, o contrário dos grandes sistemas de geração e distribuição de energia. Sistemas convencionais de energia, como as hidrelétricas, produzem grande quantidade de energia, que chega aos consumidores por meio de linhões com 3, 4, 5 mil quilômetros. Obviamente há custos muito elevados. Se você transporta energia de Tucuruí para uma cidade de grande consumo como Belém, economicamente isso faz sentido. Mas, no momento em que é preciso alimentar uma comunidade pequena e isolada, de baixo consumo, já não é razoável arcar com esses custos. Muitas dessas comunidades resolvem o problema por meio de geradores convencionais, mas o preço dos combustíveis torna o empreendimento elevado. Há também o risco de algum impacto ambiental causado por vazamentos de combustível.

Nanorredes na Amazônia

Para comunidades menores, é mais indicado o sistema de nanorrede de geração e abastecimento com fontes renováveis, pois aproveita o potencial de sol e vento da região. Existem kits comerciais para suprir pequenas residências na Amazônia, mas, dependendo do dia, às vezes sobra e às vezes falta energia. Se as residências forem conectadas através de uma nanorrede, o desperdício ou a falta de energia tendem a ser reduzidos. Na Ilha das Onças, visitei uma residência abastecida por energia solar e corrente contínua (CC). Apesar de menos comum que a alternada (CA), a corrente contínua apresenta maior eficiência e menos perda na distribuição. Os pesquisadores do GEDAE estão desenvolvendo naquela comunidade uma nanorrede, que associará várias casas com abastecimento de energia captada por painéis fotovoltaicos. O gerenciamento de armazenagem dessa energia deverá garantir o abastecimento integral do consumo de cada residência. Os pesquisadores identificaram alguns modelos de controladores de carga comercial para residências isoladas, que, com certos ajustes, permitem estabelecer o fluxo de potência ideal entre residências para não sobrecarregar nem subutilizar as baterias. Penso que este modelo sustentável de geração de energia pode ser um negócio viável economicamente, capaz de atrair, inclusive, o interesse da classe empresarial.

Parceria com empresas

Eu era o especialista em eletrônica de potência, no GEDAE, até 2001. Acredito que essa posição não foi ocupada após a minha saída. De qualquer forma, o grupo vem produzindo um grande número de pesquisas relacionadas à energia renovável. Penso que um caminho para disseminar essa tecnologia é por meio de parcerias com o setor privado. Se você vai desenvolver um novo equipamento, tem que partir de um protótipo. Um segundo passo, após muitos testes, é fazer essa experiência chegar à comunidade. É importante ter uma empresa interessada em transformar o protótipo em tecnologia comercial. Então, a parceria entre universidade e setor privado na área de energia é fundamental para que a população possa se beneficiar dos avanços gerados nos laboratórios da instituição.

UFPA e Universidade de Concordia

Em termos de capacidade de trabalho e competência, percebo que muitos colegas da UFPA teriam vaga garantida na Concordia University. A diferença principal entre esta e a UFPA é o volume de recursos disponibilizados à pesquisa científica. Infelizmente, os recursos disponibilizados no Brasil limitam o desenvolvimento pleno das pesquisas. Essa, aliás, foi a principal razão que me fez trocar o Brasil pelo Canadá. Se olharmos para os últimos 15 anos, veremos que o GEDAE realiza um trabalho muito bom. Certamente teria avançado bem mais se tivesse maior disponibilidade de recursos financeiros. É essa disponibilidade que faz a grande diferença. A manutenção do investimento em pesquisa faz o Canadá desenvolver de forma mais acelerada a sua área científica. Mas não tenho dúvidas de que a qualidade dos pesquisadores que temos na UFPA é tão boa quanto a que temos na Concordia.

Ed.151 - Outubro e Novembro de 2019

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