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Opinião

Publicado: Quinta, 31 de Janeiro de 2019, 18h51 | Última atualização em Quarta, 06 de Fevereiro de 2019, 16h35 | Acessos: 5348

Relacionamentos em aplicativos

Manuela Corral e Elson Santos
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Por Manuela Corral e Elson Santos Foto Nayana Batista

Para ir à busca de um relacionamento, hoje em dia, é preciso entender como os rituais se modificaram. Os antropólogos Victor Turner e Richard Schechner, em suas obras, apontam seus conceitos sobre ritual como um momento separado do cotidiano. Podemos associar os rituais como parte da esfera das relações sociais, pois se modificam com o reflexo do sujeito imerso no social. Então, pedir a mão da menina em namoro formalmente pode não fazer parte da intencionalidade do sujeito, como estar presente nos aplicativos de relacionamento pode ser intenção da pessoa ou vice-versa. Por isso a sociedade contemporânea está experimentando as dinâmicas dos relacionamentos, e os recursos tecnológicos fazem parte disto.

Os novos mecanismos e produtos de relacionamento fazem com que tanto o indivíduo quanto as suas relações sejam transformados nesse processo. Por conta disso, os smartphones são utilizados como ferramentas de acesso e interações. Raquel Recuero, comunicóloga e pesquisadora das trocas conversacionais no ambiente digital, aponta que as relações sociais digitais foram percebidas quando houve um crescimento de pessoas interagindo nas redes sociais e nos aplicativos (comumente chamados “apps”). Segundo dados da 2018 Globo Digital, We are Social e Hootsuite, o Brasil está entre os três países em que as pessoas passam, em média, 9 horas do dia navegando na internet e gastam 3 horas e meia acessando as redes sociais, quesitos acima da média.

Essa teia social se baseia nas trocas de informações, no consumo, no entretenimento e nas experiências sociais em novos cenários midiáticos. Então, o que fazia parte do ritual, antigamente, se transformou e, hoje, os relacionamentos não são mais comumente arranjados ou controlados, em sua maioria. A sociedade moderna fragmentou a experiência afetiva, mostrando novas formas de ressaltar as relações amorosas, matrimoniais, entre outras. O sociólogo Zygmunt Bauman aponta a incerteza em suas discussões, especialmente na sua obra Amor Líquido, ressaltando a “cultura do passageiro”, pois o “não se envolver” mostra-se uma opção mais atraente.

Nesse sentido, relaciona-se o crescimento de downloads dos chamados aplicativos de relacionamento. No Brasil, por exemplo, o número de usuários da Plataforma Tinder só perde para os Estados Unidos e o Reino Unido. A plataforma afirmou que já foi responsável por 1,6 bilhões de “deslizes” por dia e 20 bilhões de combinações. A plataforma criada em 2012, nos EUA, está ativa em 190 países, segundo o site CanalTech. Para quem não conhece, o aplicativo faz o cruzamento de informações pessoais e exibe outros usuários para combinar (o famoso match) seus interesses e iniciar algum diálogo.

Existe, além do Tinder, uma série de aplicativos com a mesma finalidade, como Hornet, Adote um Cara, Bumble, Grindr, How about we, Badoo, Date me, LOVOO, Par Perfeito, entre outros. Os aplicativos de relacionamentos são criados com a finalidade de encontros, amizades e sexo. Até para quem procura um relacionamento abençoado e cristão, o aplicativo Divino Amor tem esse intuito.

A partir dessa construção, a sociabilidade em cada App é pautada pelo objetivo do usuário, partindo do que Raquel Recuero aponta como uma construção do sujeito em rede. Em sua maioria, as fotos são pontes de visibilidade, e os corpos expostos tendem a determinar o início e o desenvolvimento de uma conversa. Esses corpos podem “performar” com fotos bem editadas, com ângulos favoráveis, perfis criativos etc.

A empresa Match Group LatAm, detentora das marcas de aplicativos de relacionamento Tinder, ParPerfeito, SingleParentMeet, Divino Amor, Divina Palavra, Fresh e G Encontros, realizou o Estudo dos Solteiros, em 2018, no Brasil, com mais de 5 mil solteiros on-line, sendo 92% dos entrevistados acima dos 30 anos. A pesquisa ainda considera que mais 72% dos usuários acreditam que não existe mais preconceito sobre o uso desses tipos de apps, constatando o quanto essas plataformas já estão imersas nos comportamentos de pessoas que não usaram e/ou não conheciam essa nova prática de relação. A empresa também criou, em 2016, o site de relacionamento OurTime, voltado para pessoas com mais de 50 anos que buscam uma relação duradora.

Segundo pesquisa realizada pelo site de relacionamentos eHarmony, 70% dos casais terão se conhecido por meio dos aplicativos de relacionamento nos próximos anos. Desse modo, propomos novas discussões que visem reforçar e aprimorar os estudos centrados no consumo de Apps e questões de gênero no grupo de pesquisa Comunicação, Consumo e Identidade do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia.

Manuela Corral – Doutora em Antropologia pelo PPGA/UFPA e professora na Faculdade de Comunicação (FACOM). Líder do Grupo de Pesquisa Comunicação, Consumo e Identidade (CONSIA). 

Elson Santos – Mestrando no PPGCom/UFPA e membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Consumo, Identidade e Amazônia (CONSIA). 

Ed.147 - Fevereiro e Março de 2019

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