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Entrevista: “O que nos une é a diversidade”

Escrito por Beira do Rio | Publicado: Quinta, 13 de Abril de 2017, 14h15 | Última atualização em Quinta, 13 de Abril de 2017, 15h52 | Acessos: 10409

O vice-reitor garante avanço da política de inclusão nos campi do interior

Por Walter Pinto Foto Alexandre Moraes

A trajetória do pedagogo e doutor em Educação Gilmar Pereira da Silva está intimamente ligada ao interior do Pará. Inicialmente, como professor do Campus de Abaetetuba e, depois, como coordenador do Campus de Cametá. Sua gestão muito contribuiu para mudar a feição deste campus, até então problemático. Instalado numa pequena escola doada pela prefeitura municipal, o campus oferecia apenas os cursos de Letras e Pedagogia. Com o apoio do Reuni, o campus aumentou sua estrutura física, cresceu para dez cursos ofertados, passou de 150 para mais de três mil alunos, implantou núcleos em Mocajuba, Baião, Oeiras e Limoeiro do Ajuru e, hoje, oferece o Mestrado em Educação e Cultura. Todos esses avanços tornaram Cametá uma referência no Baixo Tocantins. Eleito vice-reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva fala da presença da UFPA no interior, da imagem resultante dessa presença, dos novos rumos da Interiorização, do avanço da pós-graduação e da política de inclusão, uma das linhas de atuação da atual Vice-Reitoria.

Política revolucionária

A UFPA no interior do Estado nasceu da vontade acadêmica da administração superior na gestão do reitor Seixas Lourenço, assumida pelos demais reitores e pró-reitores. Nasceu, também, de uma demanda extraordinária do interior, de uma grande mobilização. A UFPA era uma universidade pública federal apenas da capital. A partir de 1987, ela assumiu a configuração de uma instituição que se dispôs a sair da estrutura do Guamá e implantar -se no interior, onde descobriu vocações. A política inicial da Interiorização foi revolucionária. As pessoas que tiveram a predisposição de assumir as coordenações dos campi naquele momento desempenharam um papel importantíssimo porque, na verdade, não dispunham de orçamento próprio. Havia apenas um convênio entre UFPA e prefeituras municipais, por meio do qual a Universidade enviava os docentes, e as prefeituras cediam prédios e pessoal técnico-administrativo. O objetivo inicial era a formação de professores. Mas, a partir de 1994, quando os campi passaram a ter alguma autonomia, começaram a surgir os primeiros bacharelados, consolidando-se, então, um novo horizonte. Hoje, a leitura que temos é que alguns campi são verdadeiras universidades, alguns com mais de três mil alunos. A grande conquista nessa dinâmica ocorreu quando a UFPA se assumiu como Universidade Multicampi. O foco exclusivo sobre a capital cedeu espaço ao interior. Isso possibilitou avanços importantes, como os campi terem assento nos Conselhos Superiores.

UFPA no interior

Algo que muito me alegra é ter podido acompanhar a história destes trinta primeiros anos da UFPA no interior e constatar o quanto ela tem contribuído para o desenvolvimento das regiões no Estado. Como sujeito que circula no interior, observo que não existe nenhuma instituição tão respeitada e querida pelas populações como a UFPA. Ela está, verdadeiramente, entranhada na sociedade. É querida, mesmo! Não só os alunos, mas também a comunidade interiorana vive a Universidade. As prefeituras, os sindicatos, as associações, as cooperativas estão dentro da Universidade, utilizam a estrutura dela em seus eventos. Há um sentimento de valoração, de expectativa, de ansiedade por parte dos estudantes, em poder cursar uma universidade federal. Os meninos se sentem diferentes. A gente tem a sensação de acolhimento em todos os lugares onde a UFPA está presente. Temos, hoje, 12 campi e estamos presentes em quase 70 municípios, seja por meio do Parfor, seja por cursos flexibilizados. Infelizmente, não dispomos de recursos e condições para atender a todas as reivindicações pela presença da UFPA em mais cidades paraenses.

Polos regionais

A dinâmica do desenvolvimento dos campi fez-se de tal maneira que se implantou algo que passamos a chamar “Interiorização da Interiorização”.  Os campi estão, agora, criando núcleos em outros municípios. Cametá, por exemplo, criou quatro núcleos na região. Abaetetuba está presente em Acará, Tomé-Açu, Igarapé-Miri e Barcarena. O raio de ação dos campi está em ampliação. Hoje, nenhum campus se sente responsável, exclusivamente, pelo seu município, mas pela região na qual está inserido. Consolida-se, dessa forma, a ideia inicial dos fundadores da Interiorização, que era a dos campi como polos regionais.

Pós-graduação no interior

É interessante observar que, no começo, havia apenas algumas adesões à Interiorização. Havia um receio do novo. Penso, porém, que esse receio exprimia mais um cuidado das pessoas com os rumos incertos do momento. Trinta anos depois, registro, com satisfação, uma mudança interessante: a própria capital se dá conta de que todas as ações no interior são fundamentais. Hoje, nos conselhos superiores, você sente a presença do interior, os coordenadores não são mais olhados de forma diferente, estão no mesmo nível dos demais conselheiros. O coordenador de campus é um gestor que dialoga com o reitor, com os prefeitos, com a sociedade. Os campi cresceram tanto que já não cabem no antigo desenho das décadas de 80 e de 90, de universidade com institutos em Belém e campi no interior. Hoje, os campi têm seus próprios institutos e núcleos. Um avanço notável ocorreu quando os campi passaram a oferecer pós-graduação. Temos, hoje, mestrados e doutorados em Bragança e Castanhal, e mestrados em Altamira, Abaetetuba, Ananindeua, Cametá e em Tucuruí. É uma nova etapa desta Universidade Multicampi.

Vocações regionais

A UFPA vem dialogando com os setores produtivos municipais. Esse diálogo permitiu identificar vocações naturais regionais. Em Bragança, por exemplo, dada a riqueza dos recursos costeiros, desenvolvemos um grande trabalho na área da Biologia Costeira. Em Altamira, há experiências nas Ciências Agrárias e um grande trabalho relacionado ao desenvolvimento de populações tradicionais, indígenas, quilombolas etc. Em Tucuruí, uma experiência interessante  desenvolveu-se nas engenharias, tendo como laboratório a própria hidrelétrica. Em Marabá, a vocação mineral foi muito importante para o desenvolvimento da área das Geociências e Engenharia de Materiais. Então, de cada campus, nós pinçamos alguma coisa da vocação regional, sem contar o próprio processo de ensino, por meio do qual procuramos sempre focar a cultura local. Em Cametá, a UFPA trabalha forte na área da cultura, por isso temos lá um Mestrado em Educação e Cultura. Estudantes e professores da região têm a oportunidade de sistematizar as suas experiências e os seus valores culturais. Também buscamos preparar o pessoal para os desafios do desenvolvimento tecnológico.

Linha de atuação

Eu parto da tese de que, na UFPA, somos um grande conjunto de companheiros de trabalho. Cada um de nós poderia estar investido no cargo de reitor ou vice-reitor. Então, quando assumimos essa tarefa, temos que fazê-la muito bem. Isso passa pela compreensão da maneira como cada um propõe a sua lógica. Não existe a obrigação do meu interlocutor concordar comigo nem a de eu concordar com todo mundo, mas temos a obrigação de ouvir e respeitar o outro e encaminhar as proposições que forem importantes do ponto de vista institucional. Estamos colocando em prática a política de não criar embaraços para os avanços individual e coletivo das pessoas. Um dos nossos grandes desafios é trabalhar a inclusão dos sujeitos nas mais diversas áreas. O que distingue a UFPA, e nos une, é a diversidade e é este conceito que queremos trabalhar na gestão atual, o acolhimento dos diferentes. A Universidade tem de desenvolver o papel de acolher a todos e trabalhar em todos os campos do conhecimento, segundo a perspectiva de acolhimento daqueles que fazem coisas e pensam diferente da gente.

Política de inclusão

Estamos avançando na questão da inclusão e queremos avançar mais. Há questões graves nessa área, como a da acessibilidade, um problema sério das universidades brasileiras. A maioria dos nossos prédios foi construída há quarenta anos. A ideia de inclusão é muito recente. Você não via cegos, surdos, cadeirantes na UFPA, em décadas passadas. Não havia uma política de inclusão para esses sujeitos. A administração superior criou uma assessoria para cuidar da inclusão, ligada diretamente ao reitor. Ela está cuidando de quilombolas, de negros, de indígenas, de ribeirinhos, de portadores de necessidades especiais. Penso que é importante darmos visibilidade para essas pessoas. É preciso que elas façam parte da cena, do espaço. Para nós, esta é uma tarefa importante. Penso que avançaremos muito nos próximos quatro anos.

Ed.136 - Abril e Maio de 2017

Comentários  

0 #1 Mauro Filho 30-04-2017 14:53
Parabéns tio.. Vc lutou tanto pra conquistar isso tudo.. e ver sua trajetoria chega a emocionar..
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