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Arquitetura, memória e patrimônio

Publicado: Terça, 13 de Dezembro de 2016, 15h34 | Última atualização em Quarta, 14 de Dezembro de 2016, 16h45 | Acessos: 6973

Dissertação analisa projetos de preservação do centro histórico

Centro histórico de Belém tem 3 mil edificações e muitas estão entregues à própria sorte.
imagem sem descrição.

Por Daniel Sasaki Fotos Adolfo Lemos/Alexandre Moraes

Ao caminhar pelo centro da capital paraense, você pode se sentir em pleno século XVII, mais especificamente no ano de 1616, quando a força bélica portuguesa expulsou os franceses de pleno território amazônico e fundou a cidade que hoje conhecemos como Belém do Pará. Traços bélicos dessa época misturaram-se com o charme de construções da Belle Époque belenense e formam o atual centro histórico da cidade. Porém as belas construções arquitetônicas de época contrastam com os casarões abandonados, pichados e com os monumentos em estado de completo abandono.

Foi o incômodo de presenciar cenários desastrosos como esse que motivou a arquiteta Márcia Teixeira Figueira Forte a realizar a sua pesquisa de mestrado, intitulada Trajetória do pensamento preservacionista e potencialidades para projetar no Centro Histórico de Belém-PA. O trabalho foi defendido no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, do ITEC/UFPA, sob a orientação da professora Thais Alessandra Bastos Caminha Sanjad.

A pesquisa teve como ponto de partida a compreensão do processo de transformação do Centro Histórico de Belém, relacionando ideias preservacionistas à instituição de tombamento e à atividade projetual desenvolvida no núcleo histórico da cidade. “Partindo desse objetivo, fez-se necessária uma análise da trajetória do pensamento preservacionista em Belém desde as décadas de 1930 e 1940, quando foram realizados os primeiros tombamentos na capital, até os dias atuais, e como esse processo influenciou no desenvolvimento da atividade projetual no Centro Histórico”, explica.

Um dos objetivos de sua pesquisa foi investigar os possíveis caminhos de produção arquitetônica contemporânea, capazes de manter o Centro Histórico de Belém preservado. “Considerando que a demanda de nossos centros urbanos nos impõe cotidianamente o desafio de projetar em espaços de memória, a pesquisa quis ampliar o debate acerca da liberdade projetual em áreas históricas e estimular um olhar profissional mais sensível em prol de atitudes contemporâneas conscientes do valor das preexistências”, afirma Márcia Forte.

“Centro histórico nunca esteve tão abandonado”

Segundo a arquiteta, a atual situação do centro histórico de Belém é de completo abandono, proveniente do descaso do poder público.  Natural de Recife e morando há 14 anos em Belém, Márcia Teixeira Figueira Forte afirma que nunca presenciou o centro histórico tão abandonado. “Atualmente, são mais de três mil edificações situadas dentro do polígono de tombamento do centro histórico, muitas são propriedades privadas, sem nenhuma política pública local de incentivo à preservação. Hoje, podemos ver prédios históricos importantes, como o Palacete Pinho e o Solar da Beira, entre tantos outros, entregues à própria sorte”, destaca.

Para a realização de sua pesquisa, de modo a identificar importantes contribuições que demonstrassem como intervir em construções preexistentes de maneira atual e harmônica, sem romper com a unidade dos conjuntos edificados e preservando a identidade de nosso centro histórico, a arquiteta elencou três construções para análise: O complexo Ver-o-Peso, o Sesc Boulevard e o Edifício Bechara Mattar.

Márcia afirma que a escolha foi pautada em diferentes níveis de intervenção, uns mais pontuais, outros de maior interferência no contexto urbano. No Complexo Ver-o-Peso, principal representante da identidade cultural da população belenense, foram analisadas as intervenções mais notáveis, em especial o projeto que atualmente faz parte da paisagem desse expressivo local. No Sesc Boulevard, que faz parte do skyline frontal da cidade e sofreu uma ampliação moderada e transformações na estrutura interna, com restaurações em sua fachada que repercutem de forma sutil sobre o casario do entorno, foi analisada a questão do uso responsável da edificação diante de um projeto de intervenção.

Já o Edifício Bechara Mattar, inserido numa área cercada pelos primeiros tombamentos da capital, que rompe, de forma ostensiva, com a tipologia do local, foi observado sob o ponto de vista de apresentar uma possibilidade de amenizar o dano ao conjunto edificado. “Representa uma intervenção da década de 1970, agressiva ao entorno, e está sendo alvo de polêmica envolvendo moradores da área, profissionais e  população em geral”, afirma.

Análise revelou mais aspectos positivos do que negativos

Os resultados da análise mostram que os três casos abordados estão relacionados à prática projetual do arquiteto contemporâneo diante da difícil tarefa de atuar em áreas preexistentes, destacando o olhar profissional em relação ao patrimônio construído.

Para Márcia Forte, a ausência de referenciais teóricos consistentes e de conhecimento tecnológico, aliada à falta de sensibilidade com relação ao patrimônio cultural, muitas vezes, contribui com um cenário urbano repleto de resultados negativos, com reflexo direto na salvaguarda da essência da coletividade, dada a importância dos espaços na construção da memória e, consequentemente, da identidade cultural do local.

“Considero as três intervenções mais positivas do que negativas, dentro desse contexto, apesar de ressalvas feitas durante a pesquisa, tendo em vista que os projetos foram pautados em questões fundamentais para um resultado satisfatório, como: aprofundamento na pesquisa documental acerca do objeto de intervenção; realização de uma ampla leitura do conjunto em que a edificação está inserida; aproximação com os reais usuários do espaço, identificando o real significado do objeto frente à coletividade e, principalmente, afirmação como arquitetura contemporânea, que deve se inserir, de forma harmoniosa, no ambiente construído, sem agredi-lo ou descaracterizar o espaço histórico”, avalia a arquiteta.

Márcia Forte acredita que sua pesquisa pode contribuir para uma conscientização profissional. “Contribuir com relação ao importante papel da arquitetura nesse contexto, estimulando uma atuação mais segura do profissional, evitando o extremismo entre a tendência simplista bastante recorrente, munida de um engessamento que impede a realização de qualquer tipo de modificação e os recorrentes exageros descaracterizadores”, finaliza a pesquisadora.

Ed.134 - Dezembro e Janeiro de 2016/2017

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