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Entrevista: Uma trajetória dedicada à Matemática

Publicado: Terça, 13 de Dezembro de 2016, 15h17 | Última atualização em Quarta, 14 de Dezembro de 2016, 16h46 | Acessos: 13893

Tadeu: “Primeiro, criamos o fato e, depois, encontramos as soluções”

Tadeu Oliver Gonçalves
imagem sem descrição.

Por Walter Pinto Foto Alexandre Moraes

Recentemente, o professor Tadeu Oliver Gonçalves tornou-se professor titular da UFPA, culminância de uma longa e profícua carreira dedicada ao ensino e à pesquisa em Matemática, desde que começou a lecionar, ainda durante a graduação. Essa dedicação pode ser constatada pela marca registrada entre os anos de 2002 e 2012, quando Tadeu Oliver orientou 31% do total de pesquisas em Matemática realizadas na Região Norte, sendo, então, em nível nacional, o terceiro docente com maior número absoluto de trabalhos orientados em Matemática. Além das pesquisas, ele atua na integração do ensino de Ciências e Matemática, preocupado em formar docentes também para as séries iniciais do ensino fundamental, um nível pouco privilegiado pela Academia.
 
Graduação na Ditadura

Em 1973, concluí o ciclo básico e optei pelo Curso de Licenciatura em Matemática. Em 1974, na ditadura militar, fui eleito presidente do Centro Acadêmico de Matemática. Incomodavam-me muito as atitudes do então chefe do Departamento do curso, que sonegava informações sobre cursos de verão oferecidos pelas universidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Na primeira reunião, reivindiquei os direitos discentes. O chefe do Departamento foi enfático: “meu filho, por acaso você não conhece o AI5?”.  Senti-me pressionado. Naquela época, docentes e discentes eram lesados em seus direitos, havia perseguições e prisões de estudantes e professores.

Pós-Graduação

Tornei-me professor colaborador do Departamento de Matemática da UFPA, em 1976. O contrato tinha umas peculiaridades: terminava ao fim de cada semestre. Recebíamos por hora-aula e não tínhamos direito a férias e a décimo terceiro. No ano seguinte, fiz concurso para Auxiliar de Ensino, sendo aprovado, mas não chamado. Continuei como professor colaborador. Nesse mesmo ano, a Unicamp ofereceu à UFPA vagas para o Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, mas o reitor da época, médico de formação e, certamente, pouco sensível às questões da educação, negou meu pedido para participar do mestrado. Resolvi ir mesmo sem remuneração. Para minha surpresa, dois dias antes da viagem, o pró-reitor, no exercício da Reitoria, comunicou-me que eu seria efetivado e havia autorizado minha liberação para o mestrado.

Administração

Durante os anos de 1980 a 1985, fui coordenador do curso de Ciências e professor orientador. Para incentivar os alunos, criamos o Grupo Cultural de Ciências e Matemática, um espaço para promoção de atividades acadêmicas, como palestras e cursos. Foi um fator decisivo para aumentar a autoestima dos discentes. Por essa época, implantei a “nova matriz curricular” do curso de Ciências. Em 1985, tornei-me o primeiro diretor do CCEN eleito por voto direto e universal.

Interiorização

Em meados da década de 1980, a UFPA passou a ser questionada por lideranças comunitárias e políticas para que se sensibilizasse com a falta de qualificação dos professores do ensino médio e fundamental no interior do Estado. O reitor aceitou o desafio, apesar de existirem, dentro da Instituição, grupos que consideravam que a intenção tinha objetivos político-partidários. Alguns eram contra a implantação do projeto, com o argumento de que os recursos a serem utilizados poderiam ser investidos para a melhoria dos cursos na sede. Na condição de diretor do CCEN, trabalhei para que a solicitação da população do interior fosse atendida, pois víamos que aquela seria uma oportunidade ímpar de a UFPA saldar uma dívida de quase 30 anos. Hoje, verifico que o apoio ao Projeto de Interiorização foi acertado. Temos uma Universidade multicampi. Os oito campi criados inicialmente – e os que vieram posteriormente - contam com corpo docente próprio e ofertam outros cursos além das licenciaturas. Dois desses campi foram transformados em universidades.

Fora dos muros da UFPA
    
Fora dos muros da UFPA, exerci os cargos de assessor de Planejamento e, posteriormente, diretor de Ensino da Seduc. Tive oportunidade de colocar em prática diversas ações que contribuíram para o desenvolvimento do ensino público no Pará, apesar de as questões político-partidárias nem sempre serem favoráveis. Foram essas questões que impediram, por exemplo, a efetivação de um projeto que considerava bastante relevante, voltado à qualificação superior de professores leigos, por meio da oferta de cursos de licenciatura.

Administração acadêmica

    Na UFPA, atuei como coordenador da Pós-Graduação e fui membro, durante 21 anos, dos Conselhos Superiores. Vivenciei tomadas de decisões importantes para a Universidade, como a implantação do Projeto de Interiorização, do Reuni, do Parfor, do Sistema de Cotas e dos atuais Regimento e Estatuto da UFPA. Exerci a direção adjunta do Instituto de Educação Matemática e Científica (IEMCI), contribuindo para a consolidação do PPGECM e da Licenciatura Integrada em Ensino de Ciências, Matemática e Linguagem, entre outras ações. No exercício da administração acadêmica, aprendi como fazer e também como não fazer. A administração, quando levada a sério, traz consigo uma desvantagem para o pesquisador: limita o seu tempo à investigação científica. Mas, ao final, a experiência administrativa foi muito importante para a minha realização profissional.

Mestrado em Ciências e Matemática

    Após a defesa da tese, em 2000, eu e a Terezinha Valim voltamos a Belém e começamos a elaborar o projeto para criação do Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática. Era uma forma de retribuir o investimento feito na nossa formação e também um avanço considerável, pois seria a primeira pós-graduação stricto sensu na área, em todo o Norte. Seria também a oportunidade para docentes de outros Estados do Norte se pós-graduarem a um custo financeiro de estada mais acessível. Tivemos que contornar alguns percalços. Um foi a falta de incentivo na Propesp, na época. No entanto não desanimamos e seguimos em frente.  Iniciamos sondagem junto aos professores de outras unidades sobre o interesse em fazer parte do programa. A ideia prosperou. Em 2001, a primeira turma registrou a demanda de 172 candidatos para 25 vagas. As aulas e as orientações realizadas pelos docentes não eram contabilizadas em nossos planos de trabalho. Por não termos espaço físico para o funcionamento da coordenação, optamos por destinar o pagamento das aulas que ministrávamos num curso de especialização para a construção da sala. Em 2005, foi proposto pela Reitoria a minha transferência para o NPADC, juntamente com Renato Guerra e Adilson de Oliveira, todos lotados no Departamento de Matemática.  A troca de três doutores por apenas uma vaga (“3x1”) tinha uma razão política. Em 2008, o Programa de Mestrado do NPADC foi avaliado com nota 4. Com isso, propomos a criação do doutorado. Em 2009, iniciamos o doutorado, contando com dezoito docentes efetivos no programa.
    
Graduação para séries iniciais

Em 2008, o reitor Alex Bolonha Fiúza de Mello perguntou a mim e à Terezinha “o que vocês ainda gostariam de fazer pelo ensino de Ciências e Matemática?”. Eu, de imediato, respondi que somente teria motivação necessária se fosse para criar uma licenciatura para séries iniciais em Ciências e Matemática. Alex, então, solicitou que elaborássemos um esboço de projeto para apresentar ao MEC. O projeto precisou contornar muitos obstáculos até que conseguimos transformar o NPADC em Instituto de Educação Matemática e Científica (IEMCI), em junho de 2009, em função da criação do Curso de Licenciatura Integrada em Ciências, Matemática e Linguagem, como parte do Reuni. O IEMCI apresentou uma característica diferente das dos outros institutos: até a presente data, foi a única unidade acadêmica da UFPA que começou suas atividades na pós-graduação para depois criar a graduação. Após a criação da licenciatura, criamos o Mestrado Profissional, voltado aos professores das séries iniciais da rede pública de ensino estadual e municipal. Relembrei aos colegas que eram contra a criação do mestrado que  em nossa trajetória sempre criamos o fato e, depois, encontramos as possíveis soluções. O projeto, aprovado pela Capes, obteve a nota 4, o que nos leva a crer que estamos no caminho certo.

Ed.134 - Dezembro e Janeiro de 2016/2017

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